Prédio do Coutinho: Demolições à custa do orçamento
Nestes anos a cidade de Viana do Castelo tem vivido sob o signo da demolição. A bem da verdade diga-se que o que mais tem caído tem sido árvores, aliás, na linha que a que o “estilo siza” tem acostumado os munícipes de várias cidades ibéricas (já passaram pela Avenida dos Aliados, no Porto, desde as mudanças que para lá houve?).
Mas demoliu-se também um mercado em bom estado, e ele próprio original como obra de arquitectura, demoliram-se armazéns para dar lugar a caixotes sem acréscimo de beleza e, tudo isto, prepara terreno para a grande demolição, a redentora obra de camartelo que há-de corrigir desconformidades ou descontinuidades, ou lá o que é….
Mas a actividade demolidora é contagiante. A linha estratégica para a cidade que passa por demolir encontrou agora eco na administração central. E o alvo escolhido foi-o por acaso, que a capacidade não deu para mais. E sob a capa de uma obra reparadora, descobrimos que a ponte que nos ligava da cidade a Darque esteve em risco de se manifestar cansada, de se demolir acidentalmente a si própria e de cair. Com a ajuda dos que irreflectidamente diziam que a iam melhorar e reparar a aniquilação da obra Eiffel esteve quase para acontecer. E aqueles que nos paços do concelho se ufanaram com a utilidade da obra lançada pelo Governo vem agora, desgraça consumada, dizer que a culpa foi dos tempos de Santana. Para os que gostam de fábulas, e alguns cultivam esse gosto nestas páginas, faz lembrar a história do lobo que bebia nas margens e, procurando pretexto no sujar das águas, para comer o cordeiro que bebia abaixo, perante o argumento evidente que não as podia sujar comeu-o com a desculpa de que se não era ele tinha sido o pai. Santana e o seu Governo são aliás um óptimo cordeiro para o sacrifício mesmo que quase 2 anos passados pouca culpa tenham. Mas as suas costas largas escondem bem, culpas que outros não querem que se vejam….
Mas esta discussão politiqueira esquece o essencial: com o fecho prolongado da ponte perde toda a gente. A Romaria da Agonia e as suas perdas no foguetório são pouco mais que irrelevantes, face ao resto. Os darquenses e outros habitantes da margem esquerda, que dela se serviam, perdem o acesso rápido à cidade: ao trabalho, ao lazer, ao comércio, às escolas. Os comerciantes do Cabedelo e Darque perdem clientes e ganham custos com fornecedores. Darque ficou a 25 minutos de Viana do Castelo e 30 km de distância. Os tractores, bicicletas e motorizadas não podem circular na ponte do IC1 e, logo, os que usam esses meios, são dos mais prejudicados. Os autocarros estão mais caros e as viagens são mais longas.
Moro na margem esquerda, em Darque e sinto o problema todos os dias. Mas a consciência social manda que diga que, se me custa o aumento da despesa em gasolina para vir à cidade, não serei dos mais prejudicados. Prejudicada, por exemplo, é realmente a senhora, que conheci há dias e que me disse que as horas de limpeza que fazia em Viana, e que lhe permitiam arredondar o salário mínimo, acabaram, porque os horários e demoras do autocarro, levaram a que não tivesse condições de as fazer caber no tempo disponível e fosse dispensada.
E na reacção ao problema, os poderes públicos, autarquia e estado central, estão a falhar na percepção disto mesmo: Darque é uma zona residencial, popular e de trabalhadores, muitos deles de parcos rendimentos. Qualquer perturbação no equilíbrio das suas despesas tem um reflexo brutal na sua vida e posteriores reflexos na economia e clima social. O desemprego já subiu ali, de certeza. O rendimento das famílias já desceu, de certeza. E houve alguma medida para reagir a isso?
Não é preciso ser um grande observador social para ver os danos na actividade das lojas e outros estabelecimentos da zona afectada. Medidas? Aliás, no meio das irrelevâncias que veio dizer aos vianenses, o Secretário de Estado da tutela, na sua deslocação a Viana, manifestou um majestoso desinteresse por esta linha de problemas causados pela obra precipitada que os seus serviços lançaram. E à concelhia do PS há que dizer que não consta que Santana Lopes tenha sido director do Serviço de Manutenção de Pontes ou como quer que se chame…
E as promessas não cumpridas? Um apeadeiro no Cais Novo (está lá a estrutura; funcionará quando?). Uma ligação mais rápida ao IC: abriu há cerca de um mês. Muito mal amanhada e perigosa, diga-se.
Um ferry, uma hipótese que não chegou a ser promessa e que foi agora retirada. O de passageiros navega ao sabor de caprichos e com um horário intermitente.
Mas seja qual for o rumo desta história, de que certeza ainda se falará mais, o custo maior vai ser dos contribuintes: serão eles (nós) a pagar a trapalhada que se evitaria com estudo e preparação atempada da obra. O Orçamento vai pagar o rendimento mínimo e os subsídios de desemprego dos que deles precisarem por via de ficarem arruinados com a crise causada e, principalmente, os custos a mais da reconstrução da ponte e das medidas mitigadoras. Naturalmente que para as pagar podia fazer-se um reequilíbrio e transferir o dinheiro da demolição sonhada para a demolição que já sofremos, e pagar as medidas de solução para a falta da ponte com o dinheiro que se poupará não demolindo o Prédio do Coutinho. E pelo caminho, agora mais longo, podia descobrir-se, e com transparência ficar a saber-se, de quem é a culpa. Já se procurou saber? Como diz a Comissão de Utentes, “puseram um rio entre nós” e, digo eu, nem sequer vieram pedir desculpa.
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