vistodaprovincia

9.01.2012

Escolher os melhores…. Viva a autonomia!!!!




Este texto se , apesar da sua extensão, for lido vai agravar o número das pessoas que não gostam de mim. Muitos colegas directores de escola se vão sentir ofendidos (especialmente os que virem os seus critérios aqui criticados). Os que tiverem poder de encaixe para isso podem escrever-me e dizer o que tiverem a dizer. Responderei e talvez não leve a coisa tanto para brincadeira como aqui.  Acho que maioria esmagadora dos meus colegas directores são pessoas com valores éticos, esforçadas, mal pagas para o trabalho que executam.  Doi-me ver a injustiça com que o nosso trabalho ´e julgado mas quem me conheça sabe que sou pouco corporativo e mesmo quando isso me causa dissabores e contrariedades não me dispenso de ser critico. Infelizmente nesta questão dos concursos de ofertas de escola  sou da minoria residual que acha que se foi longe demais na tentativa (por sinal toscamente implementada) de ter as escolas a "escolher os professores". 
Seja como for, na resposta a criticas que possam vir, não vou dizer a hipocrisia, de que não tinha intenção.
Tinha, sim senhor: a intenção de tentar abrir a consciência de alguns para ver se, com esta humilde tentativa, começam a ver que, se os critérios que inventam lhes forem aplicados, talvez percebam as injustiças que andam a fazer. A nova lei de contratação de docentes em oferta de escola pretendia corrigi-las nas intenções mas falhou nos processos (coisa muito comum em Portugal, grandes legisladores de regimes industriais mas péssimos em porcas e parafusos….)
Quem regurgitou a nova legislação das ofertas de escolas também pode ficar ofendido. Espero que não muito porque representa o meu patrão: quem assinou o decreto-lei foi o Ministro da Educação. O tal DL, que fala de 50% de qualquer coisa, somado a 50% de outra, que não se sabe bem o que é, numa escala que cada um define, e que introduz o conceito de “tranches” de candidatos (até então conhecia directamente as de vitela, que consumia com gáudio, e dolorosamente as da Troika) mas, às tantas, o infeliz estrangeirismo até pode estar bem, sendo os contratados carne para canhão do sistema de ensino.
Sendo um homem que tanto fez pela Matemática acho que o ministro não viu todas as implicações matemáticas destes artigos da oferta de escola. Creio que se vir, com atenção, vai perceber que a culpa dos problemas não é só das escolas, como declarou à imprensa, quando se viu questionado.
Mas, na verdade, não creio que venha a ter problemas por escrever isto. Afinal, temos um ministro que muito gostava, e praticava, a liberdade de dar saraivadas ao eduquês, convenientemente parodiado e eu vou tentar dar algumas….
Pena que a abstenção administrativa, que grassa sobre isto nas altas esferas dos concursos no MEC, sob a sua égide, tenha dado azo a que o eduquês magoasse tanta gente, com mérito muita dela, sob a forma de critérios de concurso…. Como aquele ignóbil espectáculo de ajuntamento de centenas de docentes à porta de uma escola de Lisboa, esta sexta-feira.
E sempre se estranha que um liberal acabe a proteger, ainda que por abstenção, mecanismos de selecção em concursos públicos com laivos monopolistas e anti-concorrenciais.

A importância de nos lembrarmos e calçarmos os sapatos dos outros

Finalmente, alguns contratados, menos adeptos do ridendo castigat mores, podem sentir-se ofendidos pelo tom, que tenta ser jocoso, do texto. A esses digo que não os queria ofender, de forma nenhuma, mesmo que a tentativa de mordacidade do texto o possa dar a entender. Ainda me lembro do turismo pedagógico dos mini-concursos e ainda sinto as suas dores de ambulantes escolares. Em suma, ainda me lembro do que é ser professor contratado e acho que, com as diferenças de geração, ainda consigo calçar os seus sapatos e pôr-me no lugar desse “outro”, o que é a base de qualquer atitude ética. E, agora, com a mobilidade, ainda vou acabar por ser um contratado com o nome pomposo de “professor de carreira”.
 Então decidi fazer este exercício. Sou professor do grupo 200 (Português e Estudos sociais) com uma graduação na casa dos 27 valores: como seriam para mim as coisas se tivesse de concorrer com os critérios de oferta de escola dos horários do meu grupo que por estes dias saíram para candidatura?

15 Horários vistos com algum detalhe

Pedi a um amigo para verificar, e na data em que escrevo (30/08), constatei que havia 15 horários do meu grupo. Eram, salvo erro, horários das escolas 121617, 145452, 145488, 152213, 170719, 170800, 170859, 171669, 171682, 171773, 171839 e 171888. Poupo-vos à longa enumeração dos nomes mas, com os códigos, quem quiser verificar chega lá.
            A seguir, apresento alguns desses critérios e comentários sobre eles. E junto um espaço para a forma como os sofreria e analisaria se fosse candidato. Tento brincar, mas o caso é triste e sério.

Ninguém selecciona médicos ou juízes com conceitos bárbaros destes.
            Agora espero sinceramente que este assunto (que é da escola, de quem tem interesse pelo futuro educativo do país e da sociedade) não fique limitado aos contratados. Se algum professor do quadro ler isto que estou a escrever, e seja ou não deste grupo, que lhe parece se lhe aplicarem tais conceitos no próximo concurso? Se acha mal, porque fica calado sobre isto? Ou só vai querer saber do caso, quando a sua própria casa estiver a arder?
            E os directores, que tais conceitos expeliram, estariam disponíveis para ser seleccionados, como docentes, desta forma? E ainda se lembram de quando eram contratados? Teriam hipóteses de ter assim para si próprios uma selecção justa, objectiva e que preencha todos os requisitos administrativos, legais e constitucionais?
            E os professores dos Conselhos pedagógicos que tais aberrações eduquesas aprovaram que têm a dizer em sua defesa?

Como nota lateral destaco que nos critérios que analiso não consta curiosamente um, patentemente ilegal, mas muito comum nas AEC (morar a uma certa distancia mínima da Escola). Sobre essa pérola gostava só de lembrar que, aí por 1940, o regime salazarista obrigava os professores primários a, sob pena de processo disciplinar, residir a menos de 5 kms da escola. A estupidez manga-de-alpaca nunca muda, e a genética é uma coisa tramada, e um tio-avô meu teve nesse tempo problemas por residir em Viana e dar aulas em Afife. Ia de comboio e era pontualíssimo mas incomodou alguém que o quis tramar. Muito senhor do seu nariz, ganhou a contestação. A Constituição consagra hoje a liberdade de circulação e de escolha de domicilio mas, nesta linha revivalista, até já nem me espantaria que alguém se lembre de reintroduzir a permissão prévia ao casamento dos professores que o Salazar também criou e fazer disso critério de concurso….

Analise de critérios concretos – um menos mau…

Numa escola, que vamos designar por 1, para Entrevista de Avaliação de Competências, a valer 50% de metade da classificação da selecção, surge o critério Conhecimento dos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária            
            Pouco objectivo. Como se mede o conhecimento referido? Conhecimento de quê? Da Geografia? Da Sociologia? Da História (tratando-se de um horário de História….) E como se graduam os diferentes "conhecimentos" dos vários candidatos que vão ser entrevistados? (TEIP's há perto de 100) Se fosse eu a concorrer, 5 anos de director de um TEIP e 1 ano a leccionar e como director de turma deveriam dar para o máximo da pontuação. Mas onde está garantido que isso não era considerado equivalente a 1 ano do docente que já está na escola e que conhece aquela em particular (ou que alguém acha que conhece ou que alguém que ele conhece acha que conhece)?
            30% iria para o Perfil Profissional. O que é isso? Existe uma definição objectiva? (por acaso existe e está na lei mas é isso que vai ser avaliado numa curta entrevista? Não será ambição a mais?)
Talvez, eu, se concorresse, tivesse a pontuação toda. Estou barrigudo mas o perfil do rosto ainda deve escapar. Se a coisa fosse levada a sério (e o perfil fosse o definido legalmente) acho honestamente que teria boa pontuação. Mas qual dos modelos de perfil será usado? Deduz-se do critério? É que, para usar o legal, falta muita informação.
E, finalmente, o 3º critério a Apreciação Global que vale 4 valores. Critério misterioso que, na verdade, entra naquela categoria que na Biologia acaba bem representada pelo ornitorrinco …. Um critério sem critério. Um "diversos" subjectivo que engloba (daí ser global) o que não se conseguiu tornar definido em estilo mais criterioso…. Se o meu mau feitio (agravado pela leitura destes critérios) aparecesse na entrevista acho que ficava a 0….

O critério do monopólio…. Liberalismo do mercado de trabalho mas com calminha…

            Se o primeiro grupo de critérios da escola 1 era dos menos maus vejamos agora do piorzinho que topei. Entrevista na mesma (esta obsessão com entrevistas merecia todo um texto de análise). Critério único: “Continuidade pedagógica”. Em termos simples, fica quem está. Critério manifestamente ilegal (disse-o no ano passado o Provedor de Justiça, não sou eu que digo).
A continuidade pedagógica atrai muita gente, especialmente os que arranjaram um galho, mesmo que não tenha sido por mérito, e é um mito eduquês (e não eduquês) muito popular.
Mas essa ideia de senso comum, baseada no dogma bem português da continuidade e estabilidade (que nos trouxe ao lindo estado em que estamos), retira competitividade ao concurso (que neste caso não e´ de quadro) ao assegurar que quem esteja continua, sem outro motivo que não ter estado.
A consideração, este ano, da graduação criou uma dificuldade a quem pensa assim mas, como todos os pensadores dogmáticos, insistem, ainda que isso obrigue ao triste espectáculo que ainda agora se assistiu à porta de uma escola que me fez lembrar uma cena de filme neo-realista (os trabalhadores alinhados e em magote `a espera da escolha pelo patrão para a jorna).
Um concurso tem de ser algo aberto, em que todos possam concorrer em igualdade com a dignidade do seu mérito intrínseco (a continuidade do passado não é um elemento de mérito intrínseco dos candidatos, e´ um fenómeno conjuntural e, neste caso, se foi gerado no passado por critérios fracos destes, bem arbitrário). Ter estado, pode ter valor mas não pode significar vitória automática, porque isso suspende a evolução. A continuidade aceita-se num quadro de ideias bacocas de aristocracia e com a mania do consuetudinario.  
Ao criar duas categorias de candidatos "os nossos" e os "de fora", um liberal diria que se cria uma vantagem competitiva ilegítima, ou se preferirem, um entrave à concorrência.
Impossível num concurso publico, ao gerar parcialidade embutida no processo. Além disso, e este fenómeno vai ocorrer noutros casos, para quê entrevistar alguém (e gastar tanto dinheiro) para avaliar as suas competências, se basta saber onde esteve colocado no ano anterior para aplicar o critério de escolha?
E, finalmente, porque é a continuidade tão importante, se o mundo muda e temos de aproveitar as "oportunidades" que as crises de mudança nos criam? Não será a continuidade pedagógica uma “lamechice” (lembram-se?) pouco liberal e fechada à competitividade (na verdade, em termos económicos, cria um monopólio daquele posto de trabalho transitório que, mesmo alguém com mérito, mas de “de fora”, nem consegue arranhar).
E quem defende a “continuidade” confunde continuidade com estagnação e confunde-se com o significado jurídico de “renovar contrato”. As renovações do concurso nacional, baseado num critério objectivo, já encerram injustiça quanto mais estas, feitas assim. E já agora que continuidade para os docentes QZP mandados para mobilidade e para os que ficaram em horário zero.....? 
 Neste critério, fosse como fosse, tinha 0 e de nada vale toda a formação de 17 anos de carreira, cursos, experiência ou até 6 anos de experiência numa escola TEIP com populações em risco de abandono escolar (ou todo o currículo restante). Um professor formado há 2 anos (que empatasse comigo no critério seguinte) conseguia, aqui, para o total final, 6 valores, que somados a 50% da sua graduação lhe davam, se tivesse a mesma nota de curso que eu, 9 valores para o mesmo total final. Ele ficava com 15 e eu com 14. Esta demonstração pelo absurdo mostra como o argumento da continuidade pedagógica viola a própria Constituição. Ou será que alguém acha que 17 anos de experiência valem menos que 2? Podem valer o mesmo, até, mas menos? (Matemática e rigor e ficamos nisto).

            A continuidade é um critério camaleão

            Numa outra escola o critério foi redigido de outra forma “Conhecimento e participação em projectos efectivados no Agrupamento no ano lectivo 2011/2012.” Vale tal conhecimento 70% de metade da classificação total do concurso. Se fosse eu a concorrer tinha 0. Projectos nunca me faltaram na vida. Não tive foi a subida honra de estar "no" agrupamento, entidade tão divinizada na sua capacidade de criar qualidades intrínsecas de mérito, que acaba designado pelo artigo definido…. "o", the special one or the only one.... 17 anos de vida e experiência valiam lá 0.....por que não foi e no ano santo de 2011/12.
Nessa escola, 20 % da nota final vai para o Conhecimento e experiência pedagógica com alunos em contexto sociolinguístico desfavorável. O que é contexto sociolinguístico desfavorável? Não se explica. Um professor que, como eu, tenha dificuldades em dizer o "L" pode invocar essa experiência? Não se perceber o critério de forma unívoca torna-o equivoco e, por isso, violador das normas de concurso. Mas talvez a natureza dúbia da redacção seja só um sintoma do contexto sociolinguístico desfavorável.
A concorrer a isto estava lixado…. Mas podia ser que os meus 6 anos de trabalho com comunidades bilingues me ajudassem a arranjar uns pontinhos para isto não ser tão escandaloso. Só me questiono é se, do conselho pedagógico dessa escola, terei condições de obter uma definição única para tão original conceito.
            O 3º critério seria ter participado em projectos no âmbito da multiculturalidade. Como se calcula uma percentagem disso? O que é multiculturalidade para quem escreveu estes critérios? E sei que a pergunta tem muito de retórica. Mas como se mede e valoriza a multiculturalidade (em tempo de experiência? Em natureza da experiência? E como (não) se diz aos candidatos o que devem destacar das suas experiências de forma mais concreta? Por exemplo, para um candidato que tenha tido namoradas estrangeiras, vai valer alguma coisa? (é uma experiência num projecto de multiculturalidade, afinal). Ter nascido ou vivido no estrangeiro também é (e a nossa vida é um projecto, certo?).
No meu caso tenho uma irmã, que muito me orgulha, nascida e criada no Brasil, até os 16 anos, e cujo final de adolescência e juventude acompanhei (isso conta como experiência? como não dizem, deve contar). Talvez me valesse a minha querida irmã, para ter uns pontitos ….

E a continuidade encapota-se ….

Por exemplo, num critério aparentemente objectivo como “ter leccionado a disciplina nos últimos três anos”, que vale metade de um concurso na 4ª escola. Na pratica a exigência de um mínimo de experiência. Não suscitaria muitas dúvidas nem comentários. Mas, e quem tiver leccionado a disciplina 10 anos, menos no último? Passou-se alguma coisa com o conteúdo da disciplina nos últimos 3 anos que os torne tão especiais?   Tinha 0 por ter sido director nos últimos 3 anos e, por isso, não leccionar. Mas os restantes anos anteriores não valem nada?
Outras redacções de continuidade encapotadas: Conhecimento do contexto do Agrupamento - Projeto educativo TEIP - Regulamento interno - Projetos próprios;  Projetos/ações/atividades desenvolvidas neste TEIP ou 3- Contributos para a concretização do projeto educativo do agrupamento no ano letivo 2012/13.

A este último responderia, se estivesse desempregado, a concorrer, “Ainda 0 mas cheio de vontade de dar contributos e como sou criativo e inovador” (e cheio de virtudes, que os defeitos tento evitar mostra-los) e talvez conseguisse a pontuação máxima. Isto, se ao explicar a fantasia inventada para o momento, estivesse inspirado....Em 2012/13 ainda ninguém fez nada portanto o critério deve implicar as competências da Maya (e olhem que eu não acho que ela preveja o futuro).
Outra forma de encapotar são os critérios que dão para tudo. Na escola 5 o Relacionamento interpessoal/ Competências de comunicação. Como se faz com que isto não seja apenas a avaliação da simpatia e de elementos externos do "relacionamento"? E sem entrar em dúvidas menos simpáticas ….
Critério 2, por aí, a valer 15%, “Competências especificas e de inovação” E o que é isto? Um professor inventor terá alguma vantagem? Critério impreciso, altamente subjectivo e objectivamente nulo de conteúdo.”Bem, sou muito inovador, é o que me dizem, mas perante a inovação de todos estes critérios (em alguns casos invencionice) creio que ia ter dificuldades em superar o tão alto critério….”
Outra forma de encapotar a continuidade dos que estão é como disse recorrer ao Conhecimento do contexto educativo do projeto TEIP do agrupamento. Critério aceitável, se se precisar o que seja o contexto, e que todos podem cumprir, mesmo os que lá não tenham estado no ano anterior (se estudarem, por exemplo). Estudava e talvez me safasse com metade da pontuação. Se tivesse tempo, e não tivesse 10 entrevistas no mesmo dia, com contextos todos diferentes para estudar (há umas 100 escolas TEIP) e, de certeza, perguntas de detalhe para me perturbar….que sou "dos de fora".

            Estruturas e (des) favorecimentos

Na escola 6 da minha análise 15% iria para a experiência em Escolas TEIP/contextos socialmente desfavorecidos. O que é isso de um contexto socialmente desfavorecido? No senso comum toda a gente tem uma ideia mas um concurso implica rigor e isso obriga a que se diga de partida como se vai distribuir a pontuação, conforme as realidades de experiência que vão aparecer? Um professor que tenha crescido num bairro social vai ter a sua experiência considerada ou não? Acho que devia. Estamos conversados sobre experiência (acho que arranjava maneira de contestar se não tivesse a pontuação máxima). Estragava tudo, por causa disso, na capacidade de relacionamento…. Mas, agora reparo, aqui não conta….
            Outro a valer 15 % Participação em projetos estruturantes de Agrupamento. O que são projectos estruturantes do agrupamento? O conceito impreciso, vago e subjectivo inclui, por exemplo, a festa de Natal? E o Carnaval? Uma visita de estudo é um projecto estruturante? O estruturalismo paga as favas que não merece... Em estruturas fraquejo. O meu marxismo mitigado sofre de um sincretismo com o historicismo e o positivismo que se irrita com balelas destas….
            Reaparece aqui o Perfil (para trabalhar com alunos com características específicas), a valer 20%. Isto, claro, não quer dizer nada. É eduquês, como alguém diria. Todos os alunos têm características específicas e todos os professores têm perfis para algumas delas. Como não se diz quais sejam …. Dá para tudo….      
Hiperactivos, ganhava os pontos todos. Parece que fui desses… Maus alunos era um problema: nunca fui. Às tantas, seria impeditivo para o perfil. Esperemos que olhem para a barriga e vejam a sua solidez de perfil. Realmente, realmente, isto está ao nível de pais que questionam o perfil de um professor que não tem filhos.... Perguntam isso ao pediatra?
E por falar em perguntas, coisa curiosa, ainda ninguém perguntou o que o candidato sabe de Historia que e´ o que vai ensinar.

E para coisas realmente cómicas …

Por exemplo: Experiência lecionação programas. Mau português, mesmo para os telegráficos caracteres que se podem por na aplicação, e o que quer dizer? Algum professor não lecciona com base em programas?
Mede-se em tempo, certo? Ou como se mede? Acho que tenho, ou será que não…. Estes critérios todos já me fazem tresler….

Outro critério “objectivo”: desenvolvimento de projectos.
Projectos de?!? Casas, arquitectura, decoração? Devem ser escolares, mas de quê? Uma visita de estudo será um projecto? Em sentido lato é. Objectivo, isto? “Projectos é o meu nome do meio….e melhores que os que fiz serão os que vou fazer (especialmente se ganhar o concurso)”, dirá qualquer candidato. Como se diz no norte vão fazer falta galochas para tanto que se vai regar.

E por falar em regar. Outro critério engraçado Capacidade de resposta a situações / ocorrências emergentes. O que é uma situação emergente e como vão avaliar isso? Se tiver uma situação emergente durante a entrevista e a resolver, suspendendo a entrevista, e saindo para evidenciar, em local mais recatado e higiénico, a minha capacidade de resposta, vão dar-me 0 ou pontuar-me com o máximo?

Bem cómico é também Aptidão para leccionação / funções previstas no horário a concurso. Na tropa recebi a menção de incapaz para todo o serviço militar mas apto para angariar meios de subsistência. Leccionar é o meu meio de subsistência há mais de 15 anos. Devo presumir que vou obter os 10% de máxima aptidão? Ou vou ter de ir buscar o Brigadeiro da Junta do Hospital Militar?

Percorrendo tudo isto, a conclusão é que num concurso destes, apto que estou, eu não tinha hipóteses nenhumas de chegar a ser seleccionado, pela maneira como os critérios são convenientemente direccionados (muitas vezes, ao lado, mas a coisas convenientes). Se fossem os únicos, entenda-se, estava fora sempre. Por isso, a mudança da lei este ano foi no bom sentido, mesmo mal operacionalizada .
 A minha graduação profissional é pública (basta verem as listas da DGAE ex-DGRHE) mas, a leccionar desde 1995, com nota de curso bastante alta de qualificação, 3 pós-graduações no ensino superior, 4 anos a ensinar em acumulação numa das melhores escolas particulares do Norte, 4 de experiência em cursos de aprendizagem e formação profissional, coordenador de formação, formador de professores e 6 anos como director e professor de um agrupamento TEIP (com 12% de população cigana e tendo participado em projectos considerados inovadores para esse tipo de escolas), nestes 15 concursos, se fosse contratado, em nenhum teria qualquer hipótese com critérios destes e, só a graduação ser considerada, impedia que ficasse a zero.

Alguém me explica como acontece isto? Esta e outras perguntas ficam à espera de resposta. E o debate vale a pena, acreditem.

(O autor e´ director de um agrupamento de escolas em que se fazem concursos de oferta de escola. As listas desses concursos, deste ano e anteriores, podem ser consultadas no site www.escolasdarque.com)

Etiquetas: , , , , , , ,